segunda-feira, 30 de maio de 2011

Sobre Literatura

Quando comentei em sala de aula sobre partes do texto Peter Hunt, relacionei sua concepção de texto escrevível, segundo Roland Barthes, ao pensamento de Merleau-Ponty. Nesse sentido, deixo aqui fragmentos de Ponty que eu comentei em sala.

Livro 1: “Os Pensadores – Vida e Obra de Maurice Merleau-Ponty”, editora Abril
1. O pensamento ocidental, “pensamento de sobrevoo”, procura dominar e controlar totalmente a si mesmo e estender a dominação e o controle à realidade exterior. A dicotomia sujeito-objeto, inaugurada pela metafísica de Descartes.

2. Para a ciência, a linguagem se reduz à emissão de sons, objetos de uma ciência natural, a acústica. Assim, a linguagem se reduz a um sistema convencional e econômico de sinais que permitem aos homens uma certa coexistência.

3. A palavra é criação de sentido. A linguagem não “veste” ideias – encarna significações, estabelece a mediação entre o eu e o outro e sedimenta os significados que constituem uma cultura. A palavra é a modulação de uma certa maneira de existir, que é originariamente sensível. (...) “A única maneira para compreender a linguagem é instalar-se nela e exercê-la” (Signos).

4. Na linguagem, o significado sempre ultrapassa o significante, e este sempre engendra novas significações, de sorte que entre significado e significante nunca existe equilíbrio, mas ultrapassamento de um pelo outro graças ao outro. Esse ultrapassamento é o sentido.

5. “A linguagem é, pois, este aparelho singular que, como nosso corpo, nos dá mais do que pusemos nela, seja porque aprendemos nossos próprios pensamentos quando falamos, seja porque os aprendemos quando escutamos os outros. Quando escuto ou leio, as palavras não vêm sempre tocar significações preexistentes em mim. Têm o poder de lançar-me fora de meus pensamentos, criam no meu universo privado cesuras por onde outros pensamentos podem irromper”.

Livro 2: “Signo”, de Maurice Merleau-Ponty, editora Martins Fontes

1. Pensamento e palavra contam um com o outro. Substituem-se continuamente um ao outro. Revezam-se, estimulam-se reciprocamente. Todo pensamento vem das palavras e volta para elas, toda palavra nasceu nos pensamentos e acaba neles. (pg. 17)

2. Quando falamos, não pensamos a linguagem como a pensa um lingüista, nem quer pensamos nela, pensamos no que dizemos. (Pg. 17)

3. Muito mais do que um meio, a linguagem é algo como um ser, e é por isso que consegue tão bem tornar alguém presente para nós: a palavra de um amigo no telefone nos dá ele próprio, como se estivesse inteiro nessa maneira de interpelar e de despedir-se, de começar e terminar as frases, de caminhar pelas coisas não-ditas. (Pg. 43)

4. O sentido é o movimento total da palavra, e é por isso que nosso pensamento demora-se na linguagem. (Pg. 43)

5. Ver é, por princípio, ver mais do que se vê, é ter acesso a um ser de latência. O invisível é o relevo e a profundidade do visível. (Pg. 21)

Livro 3: “Fenomenologia da Percepção”, de Maurice Merleau-Ponty, editora Martins Fontes.

I. Capítulo IV: O Corpo como Expressão e a Fala (página 237)

1. Pg. 243. (...), existe uma retomada do pensamento do outro através da fala, uma reflexão no outro, um poder de pensar segundo o outro que enriquece nossos pensamentos próprios.

2. Pg. 247. (...); na realidade, eles [fala e pensamento] estão envolvidos um no outro, o sentido está enraizado na fala, e a fala é a existência exterior do sentido. Não poderemos mais admitir, como comumente se faz, que a fala seja um simples meio de fixação, ou ainda o invólucro e a vestimenta do pensamento.

3. Pg. 247. É preciso que, de uma maneira ou de outra, a palavra e a fala deixem de ser uma maneira de designar o objeto ou o pensamento para se tornarem a presença desse pensamento no mundo sensível e, não sua vestimenta, mas seu emblema ou seu corpo.

4. Pg. 266. A partir do momento em que o homem se serve da linguagem para estabelecer uma relação viva consigo mesmo ou com seus semelhantes, a linguagem não é mais um instrumento, não é mais um meio, ela é uma manifestação, uma revelação do ser íntimo e do elo psíquico que nos une ao mundo e aos nossos semelhantes.

4. Pg. 247. Doentes podem ler um texto “com ritmo”, sem todavia compreendê-lo. Isso ocorre então porque a fala ou as palavras trazem uma primeira camada de significação que lhe é aderente e que oferece o pensamento enquanto estilo, enquanto valor afetivo, enquanto mímica existencial antes que como enunciado conceitual. Pg. 248. Descobrimos aqui, sob a significação conceitual das falas, uma significação existencial que não é apenas traduzida por elas, mas que as habita e é inseparável delas. (...), ela [a operação de expressão] faz a significação existir como uma coisa no próprio coração do texto, ela a faz viver em um organismo de palavras, (...). Essa potência da expressão é bem conhecida na arte (...). A expressão estética (...) arranca os próprios signos de sua existência empírica e os arrebata para um outro mundo. Pg. 249. (...) a operação expressiva realiza ou efetua a significação (...). O mesmo acontece, malgrado a aparência, com a expressão dos pensamentos pela fala.

5. Pg. 249. A fala é um verdadeiro gesto e contém seu sentido (...). Não é com “representações” ou com um pensamento que em primeiro lugar eu comunico, mas com um sujeito falante, com um certo estilo de ser e com o “mundo” que ele visa. Assim como a intenção significativa que pôs em movimento a fala do outro não é um pensamento explícito, mas uma certa carência que procura preencher-se, da mesma maneira a retomada dessa intenção por mim não é uma operação de meu pensamento, mas uma operação sincrônica de minha própria existência, uma transformação de meu ser. (...) Para todas essas falas banais, possuímos em nós mesmos significações já formadas. Elas só suscitam em nós pensamentos secundários; estes, por sua vez, traduzem-se em outras falas que não exigem de nós nenhum esforço verdadeiro de expressão e não exigirão de nossos ouvintes nenhum esforço de compreensão. (...). O mundo lingüístico e intersubjetivo não nos espanta mais, nós não o distinguimos mais do próprio mundo, e é no interior de um mundo já falado e falante que refletimos.

4. Pg. 251. A presença do outro. O sentido dos gestos (a fala é gesto) não é dado, mas compreendido, quer dizer, retomado por um ato do espectador. Toda a dificuldade é conceber bem esse ato e não confundi-lo como uma operação de conhecimento. Obtém-se a comunicação ou a compreensão dos gestos pela reciprocidade entre minhas intenções e os gestos do outro, (...). Tudo se passa como se a intenção do outro habitasse meu corpo ou como se minhas intenções habitassem o seu.

5. Pg. 266. “A partir do momento em que o homem se serve da linguagem para estabelecer uma relação viva consigo mesmo ou com seus semelhantes, a linguagem não é mais um instrumento, não é mais um meio, ela é uma manifestação, uma revelação do ser íntimo e do elo psíquico que nos une ao mundo e aos nossos semelhantes (...).”

Livro 4: “A prosa do mundo (O fantasma de uma linguagem pura)”, de Maurice Merleau-Ponty, editora Cosac & Naify.

1. Pg. 23. Na terra, já se fala há muito tempo, e a maior parte do que se diz passa despercebido. “Uma rosa”, “chove”, “o tempo está bom”, “o homem é mortal”. Esses são, para nós, casos puros de expressão.

2. São casos puros porque não “o tempo está bom” não deixa mais nada a desejar, não contém nada que não se mostre e nos faz passar ao objeto que ela designa.

3. É claro que não há somente frases feitas e que uma língua é capaz de assinalar o que ainda nunca foi visto.

4. Pg. 28. (...) virtudes secretas da comunicação. Sabem perfeitamente que uma notícia é uma notícia e de nada serve ter pensado com freqüência na morte enquanto não se souber da morte de alguém que se ama.

5. (...) e enfim só compreendo o que já sabia, não me coloco outros problemas senão os que posso resolver.

A ciência e a experiência da expressão

6. Pg. 32. Quando alguém – autor ou amigo – soube exprimir-se, os signos são imediatamente esquecidos, só permanece o sentido, e a perfeição da linguagem é de fato passar despercebida.

7. Pg. 33. [O ato estético da leitura]. Mas o livro não me interessaria tanto se me falasse apenas do que conheço. De tudo que eu trazia ele serviu-se para atrair-me para mais além. Graças aos signos sobre os quais o autor e eu concordamos, porque falamos a mesma língua, ele me fez justamente acreditar que estávamos no terreno já comum das significações adquiridas e disponíveis. Ele se instalou no meu mundo. Depois, imperceptivelmente, desviou os signos de seu sentido ordinário, e estes me arrastam como um turbilhão para um outro sentido que vou encontrar.

8. Pg. 34. Entro na moral de Stendhal pelas palavras de todo mundo, das quais ele se serve, mas essas palavras sofreram em suas mãos uma torção secreta. Máquina infernal, aparelho de criar significações.

9. Pg. 41. Quando escuto, cabe dizer que não tenho a percepção auditiva dos sons articulados, mas que o discurso se fala dentro de mim; ele me interpela e eu ressoo, ele me envolve e me habita a tal ponto que não sei o que é meu, o que é dele. (...). Falar e compreender não supõem somente o pensamento, mas, de maneira mais essencial e como fundamento do próprio pensamento, o poder de deixar-se desfazer e refazer por um outro atual, por vários outros possíveis e, presumivelmente, por todos. (...) [No rodapé: “Ele é o receptor, isto é, uma germinação de mim no exterior (...)].

terça-feira, 3 de maio de 2011

Peter Hunt

Hoje, Peter Hunt é um dos maiores nomes da Literatura Infantil. Seu livro é ótimo e, neste momento, compartilho minha leitura com teus olhos, alunos. Comentarei meu resumo em sala de aula.

“Crítica, Teoria e Literatura Infantil, de Peter Hunt, editora Cosac Naify

[2] Situação da Literatura Infantil

1. Confusões típicas (pág. 54)

1) O autor exemplifica com A História do Pedro Coelho, apresentando os mesmos trechos alterados por uma edição mais atual.

2) Na página 58, ele enumera suas observações. Na página 60, ele se estende.

Nesta parte, que livros as crianças devem ler?

2. Enfrentando nossos preconceitos (pág 65)

1) Usa um trecho de um dos maiores autores ingleses de texto infantil. Com esse exemplo, ele afirma: “A conclusão mais clara tirada das reações a esse texto é, então, a premissa tácita de que, ‘se é literatura, não pode ser para criança’, e o paradoxo de que a ‘literatura’ deve ser a ‘melhor’, mas as crianças não podem tê-la.” (pág. 69)

2) A seguir, após quatro textos, ele conclui que controlar os textos para crianças é muito forte nos adultos.

[3] Definição de Literatura Infantil

1. Aspectos da definição (pág 75)

1) Inexiste uma definição única, por isso cita vários autores.

2. Modos de ler (pág. 78)

a) Cita Patrícia Wright e conclui: “nossas referências e intenções são decisivas”.
b) Os adultos em geral leem infantis como se fossem textos escritos para adultos.
c) Normalmente, o adulto estará fazendo em nome de uma criança, para recomendar ou censurar por alguma razão pessoal ou profissional.
d) Mais raro, o adulto pode ler o texto com vistas a discuti-lo com outros adultos.
e) Ler como uma criança.

3. Definição de Literatura (pág. 81)

4. Definição de Criança (pág. 91)

1) “O que é uma criança?”, de Nicholas Tucker [1977]: 1) brincadeira espontânea. 2) receptividade à cultura vigente. 3) constrangimentos fisiológicos. 4) imaturidade sexual. 5) laços emocionais com figuras maduras. 6) dificuldades quanto ao abstrato. 7) menos grau de concentração do que os adultos. 8) vulneráveis a percepções imediatas. (pág. 91)

2) Em 1981, o mesmo autor publica “A criança e o livro”. Ele tomou os estágios de desenvolvimento postulados pelo pioneiro da psiquiatria infantil Jean Piaget. Nesse livro, demonstra-se que há dificuldade de generalização. (pág 91)

3) Em estágios diferente, as crianças terão atitudes variadas em relação à morte, ao medo, ao sexo. Serão mais abertas ao pensamento radical e aos modos de entendes os textos (pág. 92)

4) As crianças têm menos conhecimento das distinções de que fazem entre fato e fantasia, entre o desejável e o real são instáveis. Elas atribuem características humanas a objetos inanimados de modo bem menos controlado do que os adultos. Elas pertencem a uma cultura diferente – talvez a uma anticultura ou contracultura. Elas pertencem a uma cultura oral [e imagística].

5) Ao considerar a história dos livros para criança, o tipo de infância para o qual se destinavam – ou seja, o tipo de infância por eles definido – varia consideravelmente. Os livros infantis para crianças da classe trabalhadora em muitas sociedades do passado parecem ser bem autoritários e severos que os livros infantis para as classes médias protegidas.

6) Elas são protegidas das preocupações adultas e transitam em lugares diferentes. Por outro lado, tem havido um relaxamento dos limites da formalidade. Mesmo assim, a ubiqüidade da participação da mídia pode significar que elas são menos protegidas de assuntos tabus – ou a tevê dá apenas a imagem e não a sensação? Assim, as roupas das crianças se tornaram menos diferentes; a moda para crianças as tornam clones de adultos. A música popular agora atende as crianças como parte de seu mercado. (pág. 94)

[4] A Abordagem do Texto

1) Em linguagem “literária” – a da ficção e da poesia -, o leitor precisa fazer uma parte do trabalho para evocar a imagem, e com isso entender. (pág. 106)

2) Os significados literários são também quem os leitores são; onde eles estão, quando e por quem lêem são o quanto os leitores conhecem, o quanto já leram e o quanto desejam ler; e são a capacidade de entendimento que os leitores possuem – todos fatores que contribuem para a formação do sentido. (pág. 106)
1. Uma estratégia mais detalhada

1) Michael Stubbs criou um jogo divertido em que ele sugere pedir o resumo de um livro em sessenta palavras e, depois, em 25 palavras. Quanto menos palavras, mais somos forçados às abstrações sobre o que é realmente o livro. (pág. 107)

2. O leitor

1) Alguns renomados professores de literatura infantil iniciam suas aulas pedindo aos alunos (em geral adultos) que apresentem uma história de leitura. Qual a atitude deles para com os livros? Ao lerem, normalmente o estão fazendo em favor de sua formação cultural? Essa é uma pergunta fundamental sobre os livros para crianças. Elas aceitam a leitura como um comportamento normal? A leitura faz parte do cotidiano? (...). (pág. 110)

2) Em resumo, o leitor traz para os livros:

2.1. a atitude para com eles;
2.2. as atitudes para com a vida;
2.3. o conhecimento e a experiência com livros;
2.4. o conhecimento e a experiência da vida;
2.5. a formação e preconceitos culturais;
2.6. a raça, classe, idade e atitudes sexuais;

- e inúmeros outros pormenores de personalidade, formação e educação. Tudo isso afetará o modo como produzimos sentido – o que entendemos e o que tomamos como importante. (pág. 110)

3) A partir de um texto, produzimos significados de várias maneiras:

1. Mecânica: compreensão da gramática, sintaxe e pontuação (...).

2. Denotação: as palavras são estabelecidas pela comunidade lingüística para significar Essa é uma questão de competência adquirida (e pode ser verificada em um dicionário).

3. Conotações: nesse ponto, passamos das alusões aos sistemas públicos para as alusões aos sistemas privados. Estamos lidando aqui com o que descrevi anteriormente como significados pessoais e literários. Claro que há certas associações culturais que bem podem residir em algum ponto na intersecção dessas duas amplas categorias.

4. Alusões a outros textos ou eventos; alusões literárias/culturais: parte de nosso entendimento virá de referência específicas a outros livros ou a normas culturais. A alusão literária provavelmente é um esporte minoritário, mas nenhum escritor pode verdadeiramente escapar dele, e o grau com que é detectado pelo leitor será importante. (...). Continua nas páginas 114 e 115.

5. Alusões a como os textos funcionam; expectativas genéricas: sãos as características literárias mais importantes. (...), decidir com que tipo de livro estamos lidando e o tipo de atenção que o livro exige. Em resumo, precisamos observar significados – tanto para nós como para a estrutura do texto – antes de supor o que devamos entender. (...). (pág. 115)

[5] O texto e o leitor

1) Um texto para criança devem ser muito mais legíveis do que escrevíveis. Textos legíveis são textos fechados. Texto escrevíveis são abertos. Os dois conceitos vêm de Roland Barthes. No texto legível, o autor limita as possibilidades de interpretação e orienta fortemente o entendimento. Trata-se, portanto, de um texto fechado, isto é, o autor tentou fazer todo trabalho; exige que os leitores leiam apenas dentro do limites implícitos e definidos. O texto escrevível é mais aberto a contribuições do leitor. (Peter Hunt dá exemplo de um fragmento de livro, páginas 127 e 128)

2) Os textos legíveis fornece nada além da confirmação dos padrões do mundo ficcional. Se for para isso que você deseja um livro – distrair, passar o tempo, propiciar mais prática de leitura que desenvolvimento , reforçar estratificações sociais simplistas e recorrer à prosa do jornalismo popular -, então possui mais pontos positivos do que negativos. (Cortei parte do texto neste parágrafo)

3) No texto aberto, o leitor tem liberdade para preencher as imagens e as sensações.
1. Decodificação do texto

1) Os textos em ssi mesmo não ensinam nada. (...) O acesso a esses significados depende de nossa capacidade de decodificação. (Peter Hunt transcreve fragmento de um texto para exemplificar, página 139, e continua até a página 147)

2. Outros aspectos da leitura

1) A criança-leitora não produz os mesmos significados que os adultos por motivos de: 1. anticultura, psicologia, experiência de vida (denotação), experiência com texto (gênero), (...).
(pág. 148)

[6] Estilo e Estilística

1. Introdução à estilística

1) (...), e entendemos os textos tanto em relação a seus códigos como aos códigos que trazemos a eles.

2) Ler as páginas 154, 155 e 156 (a última página é interessante sobre estilística).

2. A importância da linguagem

1) Outro fator que considero de enorme importância é [...] a linguagem que irá expandir a mente e o vocabulário dos leitores. De Joan Aiken. (pág. 157)

2) (...) à medida que ficamos mais velhos, nossa linguagem tende a ficar cansada e enfastiada, mais aproximada e generalizada, menos sensível intimamente à experiência, menos individual, menos vivida. Os sinais que desejamos adaptar cada vez mais a um padrão fixo tornam-se racionais e mecânicos; assim, nossas linguagens se transformam em convencionais e estereotipadas [...]. Quase sempre impomos a nossos alunos nossa linguagem cansada e neutralizada; se não tomarmos cuidado, começaremos a eliminar do uso de nossos alunos tudo o que é vivido, admirável, incisivo, impaciente, aventureiro ou grosseiro. (pág. 159)

3) Esta parte do livro merece ser relida.

3. Estilo e “registro”

1) (...) a linguagem é a presença de marcadores do discurso oral do tipo “Era uma vez”, (...); a simplificação e a familiaridade escorregam para o paternalismo, e não apenas na linguagem. (pág. 160)

2) A linguagem superficial assume o comando e controla o pensamento. Se a linguagem limitada resultar em clichês e na formação de registros, quase sempre e talvez de forma inevitável levará o leitor a exprimir ideias simples e simplórias. (pág. 160) O autor exemplifica com uma das autoras mais vendidas na Inglaterra, Enid Blytom. Ler páginas 161, 162 e 163.

4. Estilística e controle

1) Uma narrativa controlada reduz as possibilidades de interação e, em última instância, mina o pensamento. Pela redução da distância entre contador e conto, ela torna o pacto narrativo mais específico (...). (p. 172)

2) A aceitação ampla de texto limitadores não só restringe o pensamento dos leitores como também a capacidade de pensar. (p. 173)

[7] Narrativa

1. A narrativa e o leitor

1) (...) a maior parte da ficção experimental tende a substituir a narrativa de resolução pelo enredo de revelação. (...). Como vimos, os livros para crianças tendem a favorecer o enredo de resolução.

2. A forma da história

1) (...), as crianças preferem histórias com um elemento de “desfecho” – isto é, naquelas que permitem a “sensação de um final”. Mais que isso, elas preferem que algo seja resolvido, que a normalidade seja estabelecida, que a segurança seja enfatizada.

Os livros infantis clássicos conformam-se a esse padrão, (...) com uma restauração da normalidade. (p.187)

2) Foge a essa “restauração da normalidade”, o livro para crianças menores Agora não, Bernardo, de David Mckee. Há nessa narrativa ambivalência. (p. 188)